Arthur & George - Julian Barnes

If a man cannot tell what he wants to do, then he must find out what he ought to do. If desire has become complicated, then hold fast to duty.
‘Arthur & George’, Julian Barnes

‘Arthur & George’ é um dos melhores encontros da literatura - e da vida real! - que podiam ter ocorrido. É a verdadeira aventura detectivesca do autor de Sherlock Holmes, numa obra de Julian Barnes que nos dá a conhecer um pouco destas duas vidas, destes dois homens tão diferentes, mas que o acaso acabou por juntar.

Arthur é Arthur Conan Doyle, o médico e escritor que criou o detective britânico mais famoso de todos os tempos: Sherlock Holmes. Já George é George Edalji, solicitador, filho do pastor pársi de Great Wyrley, acusado injustamente de matar animais na sua terra. Conhecemos as suas histórias, os amores e desamores de Conan Doyle, a vida pacata e controlada de Edalji, até chegarmos ao seu ansiado encontro na última parte da obra.

Em Doyle observamos um homem sensato, criterioso, que se arrepende de ter dado origem a Holmes sem dele se conseguir despedir imediatamente. Com o adoecer de Touie, a sua esposa, é noutra mulher, Jean, que encontra a felicidade, mas exclusivamente platónica até poderem assumir a relação. A maior curiosidade é, no entanto, que um homem das ciências de vire para o espiritismo numa fase ainda não muito avançada da sua vida - o que considerava mesmo ser o futuro da ciência e das religiões.

Em Edalji, conhecemos um homem de 27 anos que não tem amigos, que ainda dorme no mesmo quarto que o pai (e de porta fechada à chave), sai de casa rigorosamente à mesma hora, todos os dias, para ir trabalhar, e que seria a última pessoa capaz de cometer os crimes de que é acusado, quando nem sequer os consegue entender bem. Mas é acusado, e culpabilizado - e cumpre a pena que lhe incumbem com a mesma assertividade com que trata as questões da lei.

Apesar de com as suas ficções necessárias, a história que Barnes nos relata aqui é verídica: as personagens existiram, o caso contra Edalji existiu, a intervenção de Conan Doyle é efectiva. Mas a forma como é contada é o que verdadeiramente ‘conta’. É impossível não nos deixarmos encantar pela sua escrita coesa e encantadora, mesmo quando envereda por outros temas que não a ficção sobre a memória e a percepção (como em ‘O Sentido do Fim’). Mesmo quando os dados não se podem propriamente modificar.

Com diálogos inesquecíveis e longas descrições que não poderiam ser menos longas, nem menos descritivas, Barnes conquista-nos com esta sua capacidade de envolver o leitor em narrativas construídas (ainda que nem sempre contadas nesta ordem) em princípios, meios e fins de grandes personagens (aqui, em duplicado!), com muita pesquisa e tacto.

E assim me vai conquistando a cada obra e a cada expressão inesquecível :) Tanto que recomendei e emprestei este ‘Arthur & George’ ao meu avô para que possa dele retirar tanto quanto eu consegui absorver desta história maravilhosa!

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